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Entre bruxas e visagens, cultura do halloween ganha características bem amazônicas

Por Iris Tillmam (2º semestre)


Sobrenatural, mistério, terror. Uma história que parece não ter sentido, mas que acreditamos ter acontecido. O desconhecido é sempre intrigante e curioso, por mais cético que se declare, por mais corajoso que se seja, um bom conto de terror sempre desperta atenção e perturbação. E o mês de outubro intensifica nossa imaginação sobre os assuntos sobrenaturais. Afinal, é o mês do halloween, o inconfundível dia das bruxas.


Comemorado no dia 31 de outubro, o halloween tem como seu surgimento um antigo festival pagão, o festival celta de Samhain (termo que significa "fim do verão"). Realizado em homenagem ao "Rei dos mortos'', os celtas acreditavam que, no início do inverno, os mortos visitavam suas casas e, junto deles, surgiam assombrações que poderiam amaldiçoar animais e colheitas. Vem dessa tradição o costume de usar fantasias, elas servem para afastar espíritos indesejáveis. Mas foi apenas no anos de 1920 que a famosa tradição, de "gostosuras ou travessuras" ficou popular nos Estados Unidos.


No Brasil não tardou a ficar popular, mas houve uma modificação na comemoração do dia das bruxas. Regionalmente, a distribuição de doces e as crianças fantasiadas pelas ruas não são coisas tão populares, mas não há como negar que ela é aproveitada de forma alegre e cativante pelos brasileiros. Aqui, a festa é comemorada no dia de um dos personagens folclóricos mais icônicos, o Saci. E no Pará, no dia de uma das nossas mais conhecidas lendas, a Matinta Pereira. Houve uma ressignificação da festa, da comemoração: em síntese, tornou-se mais familiar, mais folclórica e dedicada para homenagear nossas lendas e cultura.


Com o objetivo de enaltecer a cultura paraense e a riqueza das nossas lendas, surgiu um dos cortejos mais populares do halloween belenense, o “Cortejo Visagento”. A manifestação tem como ideia vir contra com o Halloween como ele é e ressignificar a data, fazendo dela uma exaltação da cultura paraense da visagem. É um esforço por envolver a própria cultura, em vez de simplesmente abraçar algo que não é daqui, pois, no Brasil, existe uma construção cultural que valoriza mais o que vem de fora, principalmente da cultura estadunidense e europeia, do que o que é de dentro. É por conta disso que o cortejo se propõe a ressignificar a data original e valorizar as lendas regionais.


Reprodução: rede social do organizador @ecnossabiblioteca

Este ano, o cortejo celebra outra entidade popular da Amazônia: o curupira, o protetor das florestas. As preparações para cortejo começaram no início do mês de outubro, com a promoção de oficinas para a comunidade, inscrições para participação do cortejo e do concurso de fantasias. E, durante todas as terças-feiras do mês e outubro, às 19 horas, a equipe de organização se reúne no Espaço Cultural Nossa Biblioteca, no bairro do Guamá, para alinhar o cronograma do evento. O encontro é aberto a qualquer pessoa ou coletivo que tenha interesse em participar e propor alguma atividade para o cortejo.


O professor Marcus Dickson, que ministrou uma das oficinas oferecidas pelo grupo responsável pelo cortejo, afirma o quanto manter viva a nossa cultura e lendas é importante: “A cultura é nossa identidade, nosso passado, presente e futuro. Manter esse círculo de histórias nos ajuda a preservar nossa essência enquanto pessoas, nossa regionalidade, nossos cheiros, nossa estética, nossa fala. E quando podemos recontar, recombinar ou mesmo reinventar um certo lugar, como o halloween, formatando nosso próprio rosto nisso, como é o caso do Dia da Matinta Pereira (31): estamos nos 're-enraizando' de novo. É um farol para nossas futuras gerações. Nossas lendas, nossas histórias, nossas assombrações contadas por nós mesmos!”.


VISAGENS E ASSOMBRAÇÕES PELOS CORREDORES DA FACULDADE


Foto: Iris Tillmam

Contar história, reviver lendas, isso fomenta a cultura e a vivacidade de um povo, além disso, todo lugar, seja prédio, casa ou rua, tem sua história assombrosa. Até mesmo nossa instituição, Estácio-FAP, não fugiria da tradição. Situada em uma das vias mais movimentadas de Belém, construída no que antes era conhecido como o "igarapé das almas", ou "das armas", a Doca de Souza Franco guarda suas histórias macabras e nossos blocos de aulas são recheados de aparições e acontecimentos inexplicáveis.


Ex-aluno e hoje editor de vídeo, Adailton Avíz, está todos os dias resguardado no Estúdio de TV. Isolado e solitário em suas funções, no 4º andar, ele conta suas experiências e situações arrepiantes e recorrentes no prédio: tremores localizados sem causa ou conexão aparentemente, portas que se abrem sem nenhuma explicação, mas o que mais o assusta, é o pequeno menino que faz suas aparições nos cantos do quarto andar do bloco C.


"Era finalzinho da tarde... E eu tava aqui trabalhando no estúdio. Estava tudo tranquilo, o silencio comum do bloco. Foi quando eu senti um arrepio na nuca! Eu já to meio acostumado até, mas foi um arrepio tão ruim, foi uma sensação ruim, sabe? Eu preferi continuar trabalhando e não dar atenção pra isso, porém comecei a escutar alguém correndo fora da sala, não era algo estrondoso, mas parecia que alguém corria no corredor... Eu me levantei e fui até lá fora, mas não tinha ninguém. Até mesmo as luzes estavam apagadas, como se o sensor não tivesse detectado ninguém. Mas estranhamente a luz no fim do corredor em que ficava a sala da Agência 360º estava ligada, como se tivesse alguém lá. O arrepio veio novamente no pescoço e as luzes se acenderam novamente como se agora o sensor tivesse pegado o movimento de alguém! E, então, juro que senti alguém passar correndo pelo meu lado...", afirma Adailton.


Visagem, assombração, lenda urbana ou folclore, não se sabe. Mas nosso técnico afirmar ser verdade. E, seja como for, o halloween é dedicado ao sobrenatural e aproveitá-lo, seja copiando a tradição ou adaptando a nossa realidade, é o mais importante. Então, se você estiver no cortejo visagento, num banco da faculdade contando sobre as assombrações que viu no prédio ou até mesmo em uma festa a fantasia, o que importa é se divertir e aproveitar... Apenas cuidado, pois as criaturas estão à solta.

 
 
 

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