Copa do Mundo 2022: é política ou torcida?
- Luiz Gustavo
- 23 de nov. de 2022
- 7 min de leitura
Por Luiz Gustavo Oliveira (2º semestre)
A Copa do Mundo da FIFA 2022 começou no último domingo (20 de novembro) no Catar, com o jogo entre os donos da casa diante do Equador. É a primeira vez que o mundial de seleções será disputado no Oriente Médio e ocorrerá em um período bem atípico. Diferente de outras edições, tradicionalmente disputadas entre os meses de junho e julho, as 32 seleções que disputarão o campeonato, entrarão em campo agora no mês de novembro, com a grande final em dezembro. A mudança acontece por conta das condições climáticas do país sede, marcado por altas temperaturas, os cataris, turistas e demais envolvidos com a competição, conviveriam com temperaturas que beiram ou ultrapassam os 50°C em uma Copa no meio do ano, agora os termômetros marcarão cerca de 30º, amenizados por sistemas de refrigeração nas arenas dos jogos.
O Brasil (que estreia nesta quinta feira, dia 24, contra a Sérvia) tentará reconquistar a hegemonia no mundo do futebol, título que não é conquistado desde 2002. Vinte anos depois da conquista da 5ª estrela, será agora o momento do tão sonhado hexacampeonato? Mais importante: como está a expectativa dos torcedores do Brasil em relação a chegada de mais uma Copa?
Da última disputa, em 2018 na Rússia, para hoje, o Brasil viveu um período de uma intensa polarização política, onde a camisa da seleção brasileira, símbolo histórico das grandes conquistas do futebol nacional, acabou se tornando em elemento representação ideológica, de um certo tipo de patriotismo político de ultradireita, ligado ao então Presidente Jair Bolsonaro. Porém, a eleição de outubro deste ano determinou que o Brasil terá outro presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, depois de um pleito acirrado entre direita e esquerda. E entre vermelhos e verde-amarelos como fica o uso da camiseta amarela da seleção?
Essa discussão voltou a tona com o fim das eleições, e claro, com a chegada da Copa do Mundo de Futebol Masculino. As redes sociais se dividiram: há quem defenda o discurso de usar a camisa amarela da seleção e desassociá-la de um discurso político. Há quem fale que levará um tempo para não vincular a camisa tradicional do Brasil com uma figura política e, por conta disso, usarão outras cores de camisa, como a azul (2º uniforme) ou mesmo a branca (edição especial).
Também pela internet, viralizou uma imagem de Belo Horizonte (MG), onde os moradores enfeitaram as ruas como é tradição no período de Copa do Mundo, em que uma enorme faixa foi estendida para não fazer referência política, e sim a chegada de mais uma oportunidade da seleção nacional buscar o hexacampeonato.

Atenta a essa discussão, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), iniciou uma campanha com o intuito de aproximar o torcedor da seleção, o brasileiro de modo geral, com a camisa do Brasil, "a amarelinha"! O resultado dessa iniciativa é um vídeo institucional (exibido após esse paragrafo) produzido pela CBF, com um trecho da música marcante de Lulu Santos, que diz "Ela me faz tão bem", falando sobre o uso da camisa amarela e todo o simbolismo dela, como falou o presidente Ednaldo Rodrigues a múltiplos veículos de comunicação: "É o início de uma campanha institucional. Passará na TV aberta e fechada, e redes sociais. É para mostrar que todos podem se sentir bem com a camisa da seleção".
ENTRE NÓS: A COPA NA ESTÁCIO FAP
Aos poucos, a Estácio FAP também está entrando em clima de Copa do Mundo. A instituição vem moldando o seu calendário de acordo com as partidas do Brasil, a exemplo da mudança de datas nas avaliações, tanto de Nova Chance (para os alunos que perderam a 2ª avaliação), como de 3ª Avaliação e AVD's (avaliações digitais). E também já enfeitou um de seus espaços mais visitados, que é o da Secretaria, com as cores do Brasil e a chamada tanto para o evento como para a própria renovação de matrícula dos discentes.

Entre a sua comunidade, encontramos posicionamentos diferentes sobre a expectativa e o sentimento de torcer pelo Brasil e a relação das cores da seleção com ideais políticos. Para Jorge Mateus Santos, 23 anos, estudante de Jornalismo na Estácio FAP, o uso da camisa amarela do Brasil é motivo de muito orgulho: “Esse ano eu já comprei duas camisas amarelas da seleção, a de 2002 e a de 2022, pretendo acompanhar a copa usando elas. A minha justificativa é que a camisa amarela é a camisa mais campeã de todas, com ela fomos 5 vezes campeões do mundo e vestir essa camisa traz um gosto de que o hexa está cada vez mais perto”. E esse é um discurso reforçado por Leticia Correa, 28 anos, também estudante de Jornalismo da FAP: “A camisa tradicional da seleção brasileira representa pra mim um momento significativo, importante do nosso país e por ela ser fundamental, não deixarei de utilizar, sobretudo nos jogos do Brasil na Copa”.
Mas para outras pessoas, essa questão não é tão simples. Para alguns, o uso da camisa amarela da seleção ainda está fortemente relacionado com a política. Thiago Américo, 28 anos, publicitário, afirma que é necessário um resgaste da camisa que consagrou as principais conquistas no futebol para o Brasil: “Usarei a camisa amarela sim. Acredito que a camisa da seleção brasileira pertence ao povo, precisamos resgatá-la das mãos de movimentos antidemocráticos e fascistas”. É o ponto de vista seguido por Jenniffer Soares, 27 anos, Secretária Empresarial: “Comprei camisas de cores diversas, a branca e a amarela, pois acredito que o sentimento de ligação da camisa do Brasil com o nosso cenário político precisa começar a ser desmistificado, a começar por um evento que nos traz muita alegria e nos faz confraternizar com pessoas que amamos, que é a Copa do Mundo”, afirmou.
Para muitos essa discussão política tem certo peso, mas o futebol consegue se sobrepor, trazendo uma leveza por representar um momento de descontração, reunião de famílias e amigos em prol da torcida pela seleção. E tudo isso fica evidente no coração de torcedores saudosos de viver a torcida pelo Brasil na copa: “Eu compreendo quem não se sente à vontade para torcer e/ou utilizar a camisa amarela da seleção, porém, acredito que devamos torcer e comemorar como em todas as outras copas, tomar o que é nosso, e a bandeira do Brasil é de todo o povo brasileiro”, afirmou Thiago.
“A priori tinha uma certa raiva de ser confundida com eleitores do futuro ex-presidente do país ao usar a camisa do Brasil, porém, com as eleições, foi necessário ver e criar o entendimento que a bandeira, as cores, as blusas do nosso país não pertence a quem um dia usurpou-os. E se faz necessário que nós, como povo, possamos reerguer a vontade de usar e ter orgulho desses itens”, disse Jennifer.
Assim, o sentimento que marca a torcida de todos para o Brasil na Copa do Catar é a esperança. Essa é a palavra que sintetiza a expectativa dos entrevistados, principalmente em relação ao hexa: “O sentimento é sempre de esperança, todos nós brasileiros, quando chega em época de Copa nos iludimos (risos), mas é assim mesmo, enfeitamos as ruas e os nossos rostos porque amamos a nossa canarinho'', afirmou Jorge. “Sentimento de esperança, que o Brasil consiga trazer a taça pro nosso país, que a paz, amor e alegria voltem a reinar”, disse Geovana.
É uma esperança que marca um recomeço, um resgate do orgulho e da alegria em usar as cores do país: “Sentimento de recomeço! Sentimento de, talvez, uma nova oportunidade de se sentir feliz ao usar as cores do país e torcer pelo mesmo depois de 4 anos que significaram coisas ruins para o povo brasileiro. Acredito que a Copa reacenderá algo que há muito perdemos: a alegria”, disse Jenniffer. “Quero acreditar que o sentimento seja de resgate, voltar a ter orgulho de vestir a camisa do Brasil, voltar a ser feliz de novo”, citou Thiago.
O LONGO CAMINHO NO SENTIMENTO DE TORCER COM A CAMISA AMARELA
O professor dos cursos de Comunicação da Faculdade Estácio do Pará, Enderson Oliveira, falou sobre a complexidade do tema político com a relação do torcer pelo Brasil com as cores tradicionais, a camisa amarela, que vai muito além da Copa e ganhou força há um bom tempo, desde 2013 como ele pontua: “A questão é muito complexa, afinal vimos ganhar força desde 2013 a criação/invenção de um patriotismo como estratégia da extrema direita. Notamos a apropriação da camisa da seleção brasileira e da bandeira do país como símbolos não de um apoio futebolístico, mas de uma escolha por um caminho que privilegia a tríade fascistóide”.

Enderson afirma que ao longo da Copa do Mundo, ela será resgatada, mas coloca esse termo entre aspas, pois considera que o caminho para que o uso da camisa da seleção, independente de cor, não seja mais alvo de discussões, é bem longo: “Na Copa, ela será ‘resgatada’, mas de modo tímido. São anos de demarcação simbólica muito forte, por quem queria exatamente isto. Indo além, muito se fala/ se discute se a camisa será 'lavada' e 'esterilizada' após uso tão vil por quase uma década, mas creio que esta não seja a preocupação principal de agora, nem também uma pretensa necessidade de 'união' do país. O que é preciso, para mim, é algo bem mais complexo: a retomada do 'pacto civilizatório', em que atos golpistas e antidemocráticos, práticas múltiplas de violência, armamentismo e inúmeros preconceitos sejam cada vez mais suprimidos e silenciados e que tudo isto não seja visto como 'opinião', mas como que são: crimes e crimes merecem punição para servirem como exemplo”.
Para o jornalista e professor, há um longo caminho a ser percorrido para que o uso da tradicional camisa amarela da seleção brasileira deixe de provocar discussões políticas, independente de ser em período de Copa do Mundo, eleições ou qualquer outra prática esportiva, cultural ou afins, e volte a ser somente um símbolo que representa o sentimento de torcer, vibrar e celebrar as conquistas do Brasil no futebol e esporte como um todo.
Comments